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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Um Alerta sobre a TULIP






Nos círculos protestantes existem dois grandes eixos em relação à doutrina da predestinação: o Calvinismo e o Arminianismo. Calvinistas são seguidores de João Calvino (1509-1564) e arminianos são seguidores de Jacob Arminius. O calvinismo é comum entre presbiterianos, reformados e em algumas igrejas batistas. Metodistas, pentecostais e a maioria das igrejas batistas são arminianas. (Entre os católicos, os dois maiores grupos de discussão da predestinação são os Tomistas e Molinistas, seguidores de Tomás de Aquino (1225-1274) e Luis de Molina (1536-1600). Os tomistas enfatizam a ação da graça, enquanto que os molinistas enfatizam o livre-arbítrio (nenhuma das duas ignora a graça ou o livre-arbítrio). (1560-1609). 


Apesar de os calvinistas serem minoria entre os protestantes, suas idéias têm grande influência, principalmente nos EUA. Isso se deve parcialmente ao fato de que os colonizadores puritanos e batistas eram calvinistas, e também é relevante o fato de que o calvinismo é tradicionalmente encontrado em círculos intelectuais, o que lhe confere grande influência.


Os calvinistas afirmam que Deus predestina pessoas escolhendo quais delas irão responder ao Seu chamado à salvação. Essas pessoas são conhecidas como “os eleitos” (do grego eklektos, escolhidos). Estes não são salvos contra a sua vontade, porque Deus escolheu os que iriam querer se aproximar dEle em primeiro lugar. Os que não estão entre os eleitos são os “reprovados”, e estes não “querem” responder ao chamado de Deus, não responderão, e, então, não serão salvos. (Os calvinistas às vezes são mal-interpretados, pois costumam dizer que eles ensinam que a pessoas se tornam indiferentes quanto à sua salvação, já que elas já estariam incluídas entre os eleitos ou entre os reprovados. De acordo com os calvinistas é errado pensar que “bem, se Deus já me escolheu, serei salvo, se não, serei condenado, então vou sentar aqui e esperar”).

Os arminianos afirmam que Deus predestina pessoas anunciando (e não decidindo) quem irá aceitar a salvação. Ele faz esse anúncio baseado em sua presciência, que permite que se veja o que a pessoa irá fazer no futuro. Ele vê quem irá responder à sua oferta de salvação. Essas pessoas que se arrependem são os “eleitos” ou “povo escolhido”.

O debate entre calvinistas e arminianos é geralmente feroz. Cada grupo acusa o outro de estar pregando um falso evangelho, pelo menos do ponto de vista teórico, já que ambos, na prática, orientam as pessoas que serão salvas “somente pela fé”. (Entre os católicos o debate é mais suave. Desde a controvérsia sobre a graça no fim do séc. 16 e início do 17, tomistas e molinistas são proibidos de acusar um ao outro de ensinar heresia. Em 1748 a Igreja declarou que tanto o tomismo quanto o molinismo, e ainda um outro ramo, chamado de Agostinianismo, são ensinamentos católicos aceitáveis).

O debate gira em torno de uma fórmula bem conhecida: a T.U.L.I.P. Uma sigla que lista as principais doutrinas sustentadas pelos calvinistas clássicos (existem alguns calvinistas, conhecidos como “Amiraldianos” ou “dos quatro pontos”, já que rejeitam o “L” da TULIP), mas que são rejeitadas pelos arminianos. Estas doutrinas são:

Total depravity (depravação total)
Unconditional election (eleição incondicional)
Limited atonement (expiação limitada)
Irresistible grace (graça irresistível)
Perseverance of the saints (perseverança dos santos)

Para ACESSAR clique na imagem
É importante que os católicos conheçam esses assuntos: primeiro, os católicos são sempre atacados por calvinistas que não entendem a doutrina católica a esse respeito. Segundo, os católicos geralmente não conhecem a doutrina de sua igreja sobre a predestinação. Terceiro, recentemente vários protestantes calvinistas têm se tornado católicos (Scott Hahn, Gerry Matatics, Steve Wood, eu mesmo e vários outros). Conhecendo melhor o calvinismo, católicos podem ajudar mais calvinistas a fazer o mesmo.

Depravação Total

Apesar do nome, esta doutrina não ensina que o homem seja somente ou sempre pecador. Os Calvinistas não pensam que nós somos pecadores tanto quanto o possível. Eles afirmam que nosso livre-arbítrio foi tão atingido pelo pecado original ao ponto de que, a não ser que Deus nos conceda uma graça especial, nós não podermos nos libertar do pecado e escolher servir a Deus por amor. Poderíamos escolher servir a Deus por temor, mas não por verdadeiro amor. (Não há nada de errado num temor obediente. A bíblia geralmente mostra o temor ao castigo divino como um fator motivador. Amor e uma porção de temor não se excluem; uma criança que ama seus pais também sente um temor respeitoso à sua disciplina. Porém a servidão baseada apenas no temor, para interesse próprio, não agrada a Deus no plano sobrenatural, e por isso não recebe uma recompensa sobrenatural. O amor é fundamental para agradar a Deus e receber recompensas).

O que um católico poderia pensar desta doutrina? Apesar de não utilizar o termo “depravação total” para descrever essa teoria (muitos calvinistas já assumem que este termo é equivocado. Por exemplo, o autor calvinista R.C. Sproul propõe um termo alternativo “corrupção radical”, apesar de também não ser muito melhor. Lorraine Boettner, outro calvinista, usa um termo mais ajustado “inabilidade total”), ele pode concordar com ela. A doutrina católica diz que, por causa da queda de Adão o homem perdeu o amor sobrenatural e não poderá fazer nada a não ser que Deus lhe conceda uma graça especial (Ludwing Ott, em Fundamentals of Catholic Dogma p. 229, traz que “para qualquer ato salutar a graça sobrenatural de Deus (gratia elevans) é absolutamente necessária”). Também citando o Concílio de Orange, que afirmou que “enquanto praticamos o bem Deus opera em nós e conosco, de forma que possamos praticá-lo” (cânon 9) e que “o homem nada faz de bom exceto aquilo que Deus ocasionou” (cânon 20). O Concílio de Trento ensina que “Se alguém disser que sem a inspiração preveniente do Espírito Santo e sem o seu auxílio, pode o homem crer, esperar e amar ou arrepender-se como convém para lhe ser conferida a graça da Justificação - seja excomungado” (Decreto sobre a Justificação, cânon 3). A Igreja ensina que a Graça de Deus é fundamental para permitir ao homem ser liberto do pecado, demonstrar genuínas virtudes e agradar a Deus.

São Tomás de Aquino escreveu que a graça especial é necessária para que o homem pratique qualquer bem sobrenatural: amar a Deus, seguir seus mandamentos, receber a vida eterna, se preparar para a salvação, afastar-se do pecado e evitá-lo, e perseverar (Summa Theologiae (daqui em diante ST) I:II:109:2-10).



Eleição Incondicional

A doutrina da eleição incondicional ensina que Deus não baseia suas escolhas (eleição) em nada além de sua própria vontade (para os Arminianos, Deus fundamenta sua escolha na previsão dos futuros atos dos eleitos). Deus escolhe quem lhe agrada e ignora todos os demais. Os escolhidos por Deus se arrependerão e aceitarão a salvação precisamente porque Ele os escolheu.

Para mostrar que Deus escolhe positivamente, e não apenas prevê, aqueles que virão até Ele, os calvinistas citam passagens como Romanos 9:15-18, que diz: “Porque ele disse a Moisés: Farei misericórdia a quem eu fizer misericórdia; terei compaixão de quem eu tiver compaixão...”, assim afirmam que nada depende da vontade ou esforço do homem, mas apenas da misericórdia de Deus. “...Portanto, ele tem misericórdia de quem quer, e endurece a quem quer.” (como católicos entendemos tal “endurecimento” nos termos de Romanos 1:20-32, onde Paulo descreve o que Deus fez aos pagãos em troca dos seus desejos imorais depois que O rejeitaram. Veja também Tiago 1:13).

O que um católico poderia dizer a respeito dessa doutrina? Certamente, ele é livre para concordar ou discordar deste ensinamento. Todos os tomistas e até alguns molinistas (como Roberto Bellarmino e Francisco Suarez) citam a eleição incondicional.

Tomás de Aquino escreveu:

“Deus quer manifestar sua bondade no homem: a respeito dos que predestinou, por sua misericórdia, em poupá-los, e a respeito dos demais, os quais reprovou, por sua justiça, em puni-los. É este o motivo por que Deus escolhe alguns e reprova outros... mas porquê Ele escolhe alguns para a glória e reprova outros baseia-se em nenhum outro motivo senão sua vontade divina. Disso diz Agostinho: porque Ele atrai um, e ao outro não atrai, não busquemos julgar, se tu não desejas errar.” (ST I:23:5, citando Agostinho em Homilias sobre o evangelho de João 26:2).


Mesmo que um católico possa concordar com a eleição incondicional, não poderá afirmar a “dupla predestinação”, doutrina que os calvinistas concluem a partir dela. Tal doutrina afirma que, além da eleição de pessoas para a salvação, Deus escolhe outras para a condenação.

A alternativa para a dupla predestinação é dizer que, enquanto Deus escolhe alguns para a glória, Ele simplesmente omite todos os demais. Estes não se converterão a Deus, mas por causa dos seus próprios pecados, e não porque Deus os abandonou. Esta conclusão é a doutrina da reprovação passiva, ensinada por Tomás de Aquino (ST 1:23:3).

Segundo o Concílio de Trento:

 “Se alguém disser que não está no poder do homem tornar os seus caminhos maus, mas que Deus faz tanto as obras más como as boas, não só enquanto Deus as permite, mas [as faz] em sentido próprio e pleno, de sorte que não é menos obra sua a própria traição de Judas do que a vocação de Paulo — seja excomungado... Se alguém disser que a graça da justificação só se dá aos predestinados para a vida, e que todos os outros que são chamados, são-no, sim, mas não recebem a graça, visto estarem pelo poder divino predestinados para o mal — seja excomungado.” [Concílio de Trento, cânones sobre a Justificação 6 e 17. Os mesmos pontos de vistas foram adotados pelos Concílios de Orange (531), Quiersy (853), Valência (855), apesar de não serem ecumênicos].

Expiação Limitada

Os calvinistas acreditam que a redenção (expiação) é limitada, que Cristo a ofereceu apenas a alguns poucos homens, que morreu apenas para aqueles eleitos. Para provar citam passagens que dizem que Cristo morreu por suas ovelhas (Jo 10:11), por seus amigos (Jo 15:13-14a) e para a Igreja (At 20:28; Ef 5:25). Os calvinistas veem nesse grupo aqueles que são os eleitos. Tal afirmação é falsa. Nem todos que, por certo tempo, são considerados “ovelhas” ou “amigos” de Cristo sempre o serão (veja abaixo sobre a perseverança dos santos), assim como, da mesma forma, nem todos que estão na Igreja assim permanecerão para sempre.

Não podemos usar estes três versículos para provar que Cristo morreu apenas pelos eleitos. Podemos dizer que o fato de uma pessoa aceitar se sacrificar por uma outra ou por determinado grupo de pessoas não exclui que ela se ofereceu também por outras (suponha que um pai se sacrificou para salvar um grupo de pessoas, entre elas sua família e amigos. Podemos dizer que ele se ofereceu pela sua família, mas seu sacrifício salvou o grupo inteiro, sua família e as outras pessoas). Achamos provas disso em Gálatas 2:20, onde Paulo diz que Cristo “me amou e se entregou por mim”, que de modo algum implica em dizer que Cristo não tenha se sacrificado por outras pessoas. Dizer que Cristo se ofereceu de modo especial por suas ovelhas, seus amigos e pela Igreja de modo algum pode provar que Ele também não se sacrificou por todos os homens de outra forma.

A Bíblia afirma que há um sentido pelo qual Cristo morreu por todos os homens. João 4:42 descreve Cristo como “salvador do mundo”, e 1 João 2:2 afirma que “Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.”. 1 Timótio 4:10 descreve Deus como “salvador de todos os homens, sobretudo dos que tem fé”. Tais passagens, associados aos ensinamentos da Igreja, requerem que o católico aceite que Cristo morreu para redimir a todos os homens.

Aquino ensina que:

“A paixão de Cristo não foi apenas uma suficiente, mas uma superabundante expiação para os pecados de toda a raça humana; de acordo com 1 João 2:2: Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (ST III:48:2).

Porém isto não quer dizer que não exista certa limitação em relação à expiação. Enquanto que a graça concedida por ela seja suficiente para o “pagamento” de todos os nossos pecados, esta graça não será tornada de modo eficaz por todos. Pode-se dizer que, enquanto a suficiência da expiação não se limita, sua eficiência é limitada. Se a expiação fosse eficiente para toda a humanidade, o inferno não teria porque existir.

A diferença entre a suficiência e a eficiência da expiação explica a afirmação de Paulo, de que Deus é “Salvador de todos os homens, sobretudo dos que têm fé.” (1Tm 4:10). Deus é o salvador de todos os homens porque planejou um sacrifício suficiente para toda a humanidade. Ele é o salvador “sobretudo” dos que têm fé porque tornaram eficiente tal sacrifício. De acordo com Tomás de Aquino “Cristo é a propiciação dos nossos pecados, eficazmente para uns, mas suficientemente para todos, porque o preço do seu sangue é suficiente para a salvação de todos, mas é eficiente apenas aos eleitos” (Comentário a Tito 1:2:6).


Um católico também pode dizer que, no caminho da cruz, Cristo quis tornar a salvação possível para todos os homens, mas não pretendeu tornar a salvação atual para todos os homens – senão teríamos de afirmar que Cristo esteve na cruz com a intenção de que todos os homens fossem parar no céu, e este claramente não é o caso (Mt 18:7-9, 22:13, 24:40ss, 51, 25:30, Mc 9:48, Lc 3:17, 16:19-31 e especialmente Mt 7:13s, 26:24, Lc 13:23ss e At 1:25). Podemos dizer, portanto, que a expiação é limitada na eficiência, mas não na suficiência, e Deus quis que fosse assim. Entretanto, não há conflito em dizer que Deus quer que apenas alguns sejam salvos, visto que podemos desejar uma coisa, mas acabamos por fazer outra. É como se um pai desejasse não punir um filho, mas acaba tendo de fazê-lo. O católico não pode aceitar que a expiação é limitada porque foi feita apenas para os eleitos, mas pode dizer que a expiação pode ser limitada porque Deus quis que ela fosse eficiente apenas nos eleitos, apesar de ser suficiente para todos os homens (alguns calvinistas se preocupam com a afirmação de que a expiação é limitada. Preferem dizer que Cristo fez uma “redenção particular” ao invés de “expiação limitada”. Acaba significando a mesma coisa, mas como a primeira não se encaixa na sigla TULIP, a expiação é o termo mais usado).

Graça Irresistível

Os calvinistas ensinam que quando Deus concede a graça a uma pessoa, permitindo que ela seja salva, esta pessoa sempre responde e nunca rejeitará tal graça. Por isso muitos chamam esta doutrina de graça irresistível.Esta denominação tem a desvantagem de soar como se Deus forçasse as pessoas a se arrepender (como se um policial dissesse “é inútil resistir, venha com as mãos para o alto e se renda!”). E também soa bastante anti-bíblica, posto que esta mostra que a graça pode ser resistida. Em Atos 7:51 Estêvão diz aos Sanhedrin “vós sempre resistis aos Espírito Santo” (veja também Ecl 15:11-20 e Mt 23:37).

Alguns calvinistas, incomodados com a denominação “graça irresistível” propuseram alternativas. Loraine Boettner, renomado autor de livros anti-católicos, prefere “graça eficaz” (Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination (Grand Rapids: Eerdmans, 1932), ch. 8, "Efficacious Grace."). A idéia é que a graça capacitante de Deus é intrinsecamente eficaz, e sempre produz a salvação.

Esta é a principal questão entre tomistas e molinistas. Os tomistas alegam que esta graça capacitante é intrinsecamente eficaz, por sua própria natureza, devido o tipo de graça que consiste, sempre produzindo o efeito da salvação. Os molinistas alegam que a graça capacitante de Deus apenas é suficiente, tornando-se eficaz naqueles indivíduos que a aceitam livremente, ao contrário da própria natureza da graça. Por isso os molinistas dizem que a graça é extrinsecamente, e não intrinsecamente, eficaz. (Deve-se dizer que os tomistas aceitam a existência do livre-arbítrio, não da forma que fazem os molinistas. Eles afirmam que a graça de Deus estabelece o que será livremente escolhido, mas de uma forma que não perturbe a livre vontade. Aquino disse “Deus muda a vontade sem forçá-la. Porém pode mudar a vontade pelo fato de que Ele mesmo opera na vontade assim como o faz na natureza" (De Veritatis 22:9).

Os católicos podem, então, concordar com a idéia de que a graça capacitante é intrinsecamente eficaz, e que se converterão todos que a receberem. São Tomás de Aquino ensinou: “Os desígnios de Deus não podem falhar...por conseguinte, se a intenção de Deus ao operar sobre o coração do homem é que este consiga a graça, a conseguirá infalivelmente, segundo Jo 6:45, ‘E todos serão ensinados por Deus. Quem escuta o ensinamento do Pai e dele depende vem a mim’.” (ST I-II:112.3). Vaticano II: “Com efeito, tendo Cristo morrido por todos e sendo uma só a vocação última do homem, isto é divina, devemos admitir que o Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a este mistério pascal.” (Gaudium et Spes 22. “associarem...a este mistério pascal” significa ser salvo).

Perseverança dos Santos

Os calvinistas ensinam que se uma pessoa está na graça jamais a perderá, e irá perseverar até o fim da vida. Chamam esta doutrina de perseverança dos santos. Todos aqueles que, em algum momento, são santos (isto é, em estado de graça santificante, para usar a terminologia católica), permanecerão assim para sempre, não importando quais provações passem, sempre irão perseverar, e sua salvação estará assegurada eternamente (é diferente da doutrina batista, entre outras, de que “uma vez salvo, sempre salvo”, que ensina que a pessoa não pode perder a salvação, não importa o que aconteça, mesmo que perca a fé e renuncie a Cristo. A perseverança dos santos diz que, enquanto alguém perderá sua salvação se deixar de perseverar na fé e santidade, todos aqueles que vierem a Deus irão perseverar). Passagens como 1 Cor 6:9-10 e Gl 5:19-21, que dizem que quem pecar não herdará o paraíso, são entendidas como se, ao cometer certos tipos de pecados, a pessoa nunca foi um cristão de verdade, apesar de parecer sincero. Tanto a perseverança dos santos como a doutrina “uma vez salvo, sempre salvo” ensinam a “segurança eterna”, mas não são iguais. Os calvinistas admitem que existem pecados mortais, mas dizem que nenhum dos que são salvos cometerão estes tipos de pecado. Por outro lado, quem prega “uma vez salvo, sempre salvo”, independente de cometer ou não um pecado mortal, estará salvo.

Para sustentar esta doutrina os calvinistas dizem que nós nos tornamos crianças de Deus quando nos tornamos cristãos. Assim como a posição da criança na família é de segurança, nossa posição na família de Deus também é de segurança. Um pai não expulsaria uma criança, e Deus também não nos expulsaria.

Esse raciocínio é errado. Tal analogia não prova o que pretende. Crianças não possuem “segurança eterna” nas suas famílias. Primeiro, crianças podem ser rejeitadas. Segundo, mesmo se um pai não expulsar ninguém de casa, uma criança pode sair sozinha, desobedecer seus pais, e romper todos os laços com a sua família. Terceiro, crianças podem morrer. Nós, como crianças espirituais para Deus, podemos morrer espiritualmente após “nascidos de novo”. Cristo nos ensina que podemos ser crianças, romper nossos laços com nossa família e assim “morrer” espiritualmente, mas que podemos voltar e reviver, como que ressuscitados espiritualmente. (Lc 15:24,32)


Os calvinistas também usam a bíblia para defender a perseverança dos santos. Os principais são Jo 6:37-39, 10:27-29 e Rm 8:35-39. A interpretação calvinista se encontra fora de contexto. Jo 6:37-39 e 10:27-29 estão fora de contexto com Jo 15:1-6 que diz que os cristãos são os ramos da videira que é Jesus, que Deus remove todo ramo que não produz fruto, e que o destino desses ramos é serem lançados à fogueira. Rm 8:35-39 está fora do contexto com Rm 11:20-24, onde Paulo compara a Israel espiritual com um oliveira e que alguns ramos foram cortados pela incredulidade, onde os cristãos não serão poupados se também incorrerem no mesmo erro. Os ramos que foram cortados poderão ser novamente enxertados. Rm 8:35-39 também está fora de contexto com Rm 8:12ss e 14: 15.20, além de outros problemas exegéticos com a interpretação calvinista.

Os calvinistas também assumem que a perseverança dos santos trás consigo a ideia da predestinação. Se alguém está predestinado a ser salvo, ele não iria perseverar até o fim? Isto acarreta uma confusão acerca do quê as pessoas estão sendo predestinadas: à salvação inicial ou à salvação final? Parecem ser, mas não são a mesma coisa. Alguém pode ser predestinada a uma, mas isso não quer dizer que necessariamente está predestinada à outra. Por exemplo, se alguém estava predestinada a entrar na minha sala, isso não quer dizer que ela permanecerá na minha sala para sempre. Deve-se então definir qual o tipo de predestinação que se está falando.

Se a questão é a predestinação inicial à salvação, então o fato de uma pessoa estar com Deus não necessariamente significará que ela permanecerá com Deus. Se o assunto é sobre a predestinação final à salvação, então essa pessoa permanecerá com Deus, mas isso não significa que estes predestinados são apenas aqueles que experimentaram a salvação inicial. Existem aqueles que estão com Deus (porque foram predestinados à salvação inicial), mas que o deixam (porque não foram predestinados à salvação final). A teologia católica entende “predestinação” como “predestinação à salvação final”. Por isso aqueles que estarão com Deus no paraíso são os “predestinados” ou os “eleitos”. Pelo fato de alguém experimentar a salvação em determinado momento não significará que ele está entre os predestinados (porque a predestinação final não é conseqüência da predestinação inicial). Não há, portanto, razão para não crer que pessoas não possam “crer por apenas um momento” e que depois “na hora da tentação, desistem” (Lc 8,13). Eu reconhecia esse fato mesmo quando eu ainda era um ardente protestante.




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A idéia que de uma pessoa pode estar com Deus e mesmo assim não estar entre os predestinados soa estranho aos calvinistas, mas não soa estranho para Agostinho, Aquino, ou mesmo Lutero, pessoas a quem os calvinistas costumam citar como “calvinistas antes de Calvino”. O teólogo presbiteriano R.C. Sproul redefine o calvinismo como uma “forma” de agostinianismo. Apesar de a predestinação calvinista poder ser uma variação do ponto de vista de Agostinho, ela não é a mesma. Agostinho não concorda com o entendimento calvinista de perseverança dos santos, assim como toda a tradição agostiniana. O entendimento de Calvino foi uma novidade. Para uma discussão mais acurada sobre a perseverança dos santos leia o artigo de J.J. Davis The Perseverance of the Saints: A History of the Doctrine by John Jefferson Davis. (Davis é calvinista e está tentando corrigir os erros de outros calvinistas na história de sua doutrina)

Com tudo isso o católico pode até concordar com essa doutrina, desde que ela mude seu nome para “perseverança dos predestinados (ou eleitos)” (à salvação final, fique bem claro). 




Fonte: Catholic Answers. Tradução: Rondinelly Ribeiro. Escrito por James Akin

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